Por que estudar as teorias sobre aprendizagem?
É fascinante observar uma criança
dando seus primeiros passos, falando suas primeiras palavras, elaborando as primeiras frases, enfim, interagindo com o
mundo e aprendendo sobre ele. Esse fascínio levou muitos estudiosos a dedicarem
tempo e esforços na busca pela compreensão de como o homem aprende.
As grandes escolas teóricas
nos mostram o caminho percorrido por esses cientistas, conotando uma evolução
de teses e pensamentos. Podemos verificar como as mais emblemáticas:
Behaviorismo, Gestalt, Cognitivismo, Psicossociais.
Toda teoria decorre,
implicitamente, de ideias pré-concebidas (hipóteses) e chegam a um conhecimento
elaborado durante seu processo de experimentações, pesquisas, comprovações ou
refutações.
Todas as teorias têm sua essência
e importância diante dos conhecimentos disponíveis atualmente acerca do
processo de aprendizagem ou seja, como o sujeito aprende. A seguir, uma breve
exposição das principais escolas teóricas que influenciaram a pedagogia.
O behaviorismo (de behavior (inglês) = comportamento) surgiu como oposição ao
funcionalismo e estruturalismo, e é uma das principais correntes da psicologia.
O teórico mais conhecido dessa vertente é o psicólogo americano Burrhus
Frederic Skinner que traz o conceito de behaviorismo radical em que afirma que
o meio ambiente era o grande responsável pelo comportamento humano. Skinner era
claramente contra a utilização de elementos não observáveis para explicar a
conduta humana. Assim, os aspectos cognitivos não são considerados, porque o
ser humano é visto como um ser homogêneo, e não como um ser que é composto pelo
corpo e mente.
O behaviorismo radical
contempla os estímulos dados aos indivíduos pelo meio ambiente. De acordo com
Skinner, esses meios eram conhecidos como punição, reforço positivo e reforço
negativo. Dessa forma, direcionando para a educação escolar, os defensores de
tal teoria acreditam que com os estímulos específicos, é possível
"transformar" e "moldar" o comportamento de uma criança, e
por meio de vários treinamentos e exercícios ela chegará à aprendizagem do
conteúdo proposto pelo professor.
Uma segunda escola teórica
de fundamental importância para compreendermos as teorias subjacentes à
educação escolar é a Gestalt. De origem alemã, (significa forma ou figura) ela
contrapõe-se ao behaviorismo, apresentando a tese de que o sujeito deve ser
participante em seu processo de aprendizagem.
A teoria da Gestalt, também
conhecida como Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma, faz parte dos
estudos da percepção humana, que começaram a se desenvolver entre o final do
século XIX e os primeiros anos do século XX. Os pioneiros desta doutrina e
formuladores das Leis da Gestalt foram os psicólogos Kurt Koffka, Wolfgang
Köhler e Max Werteimer. A Gestalt afirma que as coisas possuem a tendência de
serem vistas como um todo não de maneira separada. A Psicologia da Gestalt, foi
um campo de pesquisa que trouxe uma série de novas perspectivas para entender a
maneira com a qual o homem se relaciona com o mundo;
Ela afirma que nossa
percepção não se dá por “pontos isolados”, mas, sim, por uma visão de “todo”. (conceito
de supersoma). Não vemos partes isoladas, mas relações. Isto é, uma parte na
dependência de outra parte.
Nessa percepção, que é
resultado de uma sensação global, as partes são inseparáveis do todo e são
outra coisa que não elas mesmas, fora desse todo (conceito de
transponibilidade).
A Gestalt é uma teoria que apresenta-se
como transição entre o radicalismo do behaviorismo para o entendimento mais
complexo do desenvolvimento do sujeito no cognitivismo, pois começa a expor a
ideia de aprendizagem como processo não mecanizado.
Outra grande escola teórica
é o cognitivismo, cujo pai foi Jean William Fritz Piaget, biólogo, psicólogo e
epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX.
Outro cognitivista importante é David Ausebel, que introduz o conceito de
aprendizagem significativa como teoria.
Essa abordagem cognitivista diverge
da visão comportamentalista, pois estuda a complexidade do desenvolvimento
humano e se centra nos processos mentais em que ocorre a aprendizagem.
Para os cognitivistas a
aprendizagem é concebida como um processo de aquisição de esquemas de resposta
e de adaptações sucessivas ao meio. Para que possamos falar de aprendizagem
terá de ocorrer uma mudança da estrutura cognitiva do sujeito, na forma como
ele percebe, seleciona e organiza os objetos e os acontecimentos e nos
significados que lhes atribui. A capacidade de aprender novos conceitos depende
do conhecimento prévio e das estruturas cognitivas já existentes no indivíduo e
as novas informações que o indivíduo recebe são relacionadas umas com as outras
e provocam alterações cognitivas na estrutura já existente.
Dentre os cognitivistas
encontramos ramificações que permitiram ultrapassar a visão redutora da
aprendizagem, na medida em que esta era vista apenas como um comportamento expresso.
Aprender é entendido, sobretudo, como a ação de atribuir um significado e daqui
decorre que os significados que atribuímos dependem das nossas experiências
anteriores. Assim, tal visão, ao ser transportada para a escola, provoca
mudanças no papel do professor e do aluno. Ambos são peças chave para o
processo de ensino e aprendizagem. O professor passa a ter a função mediadora
de propor situações em que o aluno, ser ativo, possa agir sobre o objeto de
estudo e construir conhecimento a partir dos significados que lhe atribui,
acionado, para tanto, informações já elaboradas anteriormente.
Nessa evolução (não linear,
apenas metafórica) de teorias, temos as chamadas teorias psicossociais. Psicossocial
se refere a relação entre o convívio social do ponto de vista da psicologia.
Consiste num ramo de estudo que abrange os aspectos da vida social em conjunto
com a psicologia clínica. De acordo com esta teoria apresentada pelo
psicanalista Erik Erikson (1902 - 1994), o desenvolvimento psicológico do
indivíduo depende da interação que mantêm com outras pessoas num ambiente
social.
Ao longo de toda a vida, o
ser humano atravessa estágios que servirão de formação para o seu
comportamento, caracterizados pelas chamadas "crises psicossociais",
episódios marcantes que influenciarão as decisões que esta pessoa tomará
perante à vida.
Uma vertente das teorias
psicissociais é a Psicologia Histórico-Cultural, em que as necessidades humanas
são compreendidas para além da mera satisfação orgânica e reconhecidas no seu
"encontro" com os objetos materiais e simbólicos, ou seja, com os
objetos culturais construídos pelo homem ao longo da história. Pode-se afirmar
que é da relação com os objetos existentes no mundo circundante que a
necessidade, motivada socialmente, orienta e regula a atividade humana
(LEONTIEV, 1978a). Para Lev Vygotsky há dois diferentes conceitos de estrutura
no desenvolvimento humano. O primeiro considera as estruturas naturais do
sujeito, também chamadas de estruturas primitivas, são aquelas determinadas
pelas peculiaridades biológicas do psiquismo. O segundo conceito de estrutura
origina-se do desenvolvimento cultural do sujeito, sendo denominadas
superiores, dada sua constituição a partir da história e da cultura.
É a aprendizagem por
transmissão social que possibilita ao homem avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades, e tudo o que um sujeito faz hoje, com auxílio e orientação de
outro, poderá fazê-lo amanhã de forma independente. Para Vigotski (2001b,
p.480), a imitação vincula-se à compreensão, e o sujeito pode imitar ações para
além dos limites das suas próprias capacidades, pois "[...] através da
imitação na atividade coletiva, orientada pelos adultos a criança está em
condição de fazer bem mais, e fazer compreendendo com autonomia".
Em suma, a atividade de
fazer com o outro, aprender junto e imitar deve ser reconsiderada no processo
de construção do desenvolvimento humano, sobretudo na escola. Compreender o
conceito de Zona de Desenvolvimento Potencial é compreender os processos de
desenvolvimento que já foram atingidos pelo sujeito (nível de desenvolvimento
atual), como também aqueles que ainda estão por ser construídos ou em
construção, que o sujeito demonstra condições de realizar inicialmente com a
ajuda do outro e no futuro de forma independente (VIGOTSKI, 2001b).
Outro teórico importante é
Henri Wallon, médico e psicólogo francês, que elaborou sua obra fundamentada
sobre os alicerces do materialismo histórico e dialético e, assim sendo, compromissada
com o pleno desenvolvimento e humanização dos indivíduos. A obra walloniana
apresenta o compromisso com a criação de uma sociedade em que o sujeito humano
tenha condições de se desenvolver plenamente, sendo a educação elemento
fundamental nesse processo. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência
como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica
é formada por três dimensões - motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e
atuam de forma integrada. Wallon defende que o processo de evolução depende
tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de
alguma forma. Ele nasce com um equipamento orgânico, que lhe dá determinados
recursos, mas é o meio que vai permitir que essas potencialidades se
desenvolvam. Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em etapas, que
para ele são cinco: impulsivo-emocional; sensório-motor e projetivo;
personalismo; categorial; e puberdade e adolescência. Ao longo desse processo,
a afetividade e a inteligência se alternam.
Concluindo, conhecer tais
teorias e suas implicações na educação é de suma importância na formação
profissional docente. Durante sua formação, ainda como estudante, o sujeito,
hoje professor, foi exposto a algumas ou todas essas teorias. Nesse contato,
impressões e informações, negativas ou positivas, foram registradas. Observou-se
ao longo dos anos cada professor, o modo como agiu, o desenvolvimento de suas
aulas, seu compromisso com a turma, enfim, aspectos que, na época, foram
relevantes para cada indivíduo. Inicia-se a elaboração conceitual interna,
dentro de cada sujeito, sobre o que é ser um professor. Tal construção vai se
refazendo e se consolidando a cada nova experiência. E quando este sujeito
decide caminhar nessa profissão, traz consigo teorias implícitas sobre o papel
do professor e como o aluno aprende. Teorias que, muitas vezes, passam
despercebidas ao longo de toda a carreira profissional.
Estudar as teorias e
conhecer suas implicâncias na pedagogia, propicia ao professor explicitar sua
prática, esclarecer suas ideias sobre sua função de ensinar e, diante de suas
percepções e reflexões, reconhecer qual teoria subjaz suas ações e como essa influência
se reflete na aprendizagem de seus alunos.
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